Artigo: A triste política de Goiana

“Supõe tu num campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais feitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas” (VI Capítulo, Quincas Borba – Machado de Assis)… 

Nesta obra de Machado de Assis foi de compreender as instituições sociais como se fossem direcionadas por sentimentos e paixões individuais. Desmascarando assim, todo imaginário criado pelos discursos políticos de interesse social e pelo bem coletivo. Goiana não possui apenas duas tribos disputando as batatas do poder público. O cenário eleitoral de 2016 deixou um novo quadro de lideranças políticas com alguma relevância local. E uma enorme conturbação do debate político. 

Após um ano de cenário econômico e político desgastado, a elite política Goianense deu uma demonstração de que nada possa ser tão ruim que não possa ser piorado. Nossa estrutura política conta com uma Câmara Municipal pouco eficaz para não ser chamada de ridícula e alguns vereadores que pouco se esforçam para merecerem os salários recebidos. Jovens líderes que já decepcionam ao aderirem ao discurso politiqueiro e provinciano de pouco valor. E na cena principal, situação e oposição que se digladiam da forma mais caricata e previsível, comum a uma Goiana dos anos 60. 

A “cognição política” impede que se entenda a realidade. Não se sabe o que de fato ocorre na política, nem os políticos. Tão pouco dos interesses que motivam aqueles que se dedicam a vida pública. Contudo, quanto mais limitado é o conhecimento, mas se desconfia e deixa-se de acreditar em discursos políticos. Assim, sobram os sentimentos de pena pela degradação moral que estes seres se submetem pelo poder. Ódio pelas despesas pagas com recursos tomados via impostos. Tristeza por não ser visível um futuro de melhora. E nenhum desenvolvimento ou progresso gerado. É sem dúvida uma situação lamentável. 

Alexandre Almeida é acadêmico de Direito.

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